Como você tem encarado uma simples ida ao mercado neste momento de quarentena? Você começa a se planejar baseando-se no medo de se contaminar ou organizando métodos de evitar o contágio? Quando colocamos a situação dessa forma fica mais fácil perceber a diferença entre medo e prudência.
Fomos educados a partir do medo. As gerações anteriores tinham como costume disfarçar o medo como ameaça, seja ao castigo, à agressão ou alguma repressão. Quantos de nós não escutamos “Se você não fizer tal coisa vai apanhar / ficar de castigo…”. No consultório fica fácil perceber como isso gera inibição e certo acovardamento diante do mundo. Se todas as vezes que age é retaliado, chega um momento em que o indivíduo não sai do lugar; como, por exemplo, pessoas de 30 anos que ainda mantêm uma relação infantil com os pais.
Esse tipo de repressão – mesmo na infância – gera adultos inseguros. Mas como educar evitando isso? Uma das coisas que gosto de falar é sobre prudência. Gerar a capacidade de discernimento e compreensão dos perigos reais é fundamental. Ao invés de fantasiar situações catastróficas para educar pelo apavoramento, é interessante apresentar recomendações e cenários realmente alinhados com a realidade. Pois quando o medo passado pelos cuidadores é muito irreal, a tendência, inconscientemente, é captar o enganoso. Em casos assim, poderemos ter uma criança destemida para algumas coisas, porém sem prudência para outras. O medo pode, ainda, tomar outras proporções, como ansiedade e pânico.
O ensinamento por meio do exemplo é importantíssimo, uma vez que grande parte do aprendizado infantil é através da imitação. A ideia não é, nem de longe, encorajar a criança a se submeter às situações perigosas, mas sim apresentar as ameaças e os cuidados necessários. Isso fomenta a autonomia, autopreservação e autocuidado, ao invés de pavor.
